Precisamos ser responsáveis com todo nosso sentir

Treta é uma série criada pelo produtor Lee Sung Jin, em parceria da Netflix com a A24. Lançada em 06 de abril e protagonizada por Ali Wong como Amy Lau e Steven Yeun como Daniel Cho. A produção acompanha um empreiteiro fracassado e uma empresária frustrada que, após um incidente no trânsito, começam a planejar loucuras para acabar com a vida um do outro.

Essa série de comédia é repleta de pegadinhas e momentos raivosos que mostram ao espectador o efeito cascata das ações tomadas pelos personagens, porém sinto que temos muitas discussões ao longo da trama que vão além de um simples ataque de raiva. Cada episódio tem um momento de catarse que se correlaciona facilmente com o nosso dia a dia.

Danny tem uma necessidade gritante de aprovação dos pais, ele faz de tudo para ser o filho perfeito, que compra o terreno perfeito e constrói a casa dos sonhos. É como se a história da vida dele já fosse traçada ao nascer. É difícil lidar com todas essas expectativas e cobranças quando o plano original não caminha do jeito esperado.

Por ele ser o irmão mais velho também existe essa ambição de ser o melhor exemplo possível pro seu caçula, o que faz com que algumas decisões tomadas por ele não sejam as melhores de todas. Além disso, percebi uma dependência emocional do Danny para com o Paul (irmão mais novo), ponto que vemos um pouco melhor no episódio em que revisitamos a infância dos dois.

Imagem/Divulgação Netflix

A realidade de Danny é triste e conturbada, em contraponto do outro lado da cidade temos nossa outra protagonista, com a vida praticamente perfeita. Amy trabalhou muito por anos e agora está prestes a ser milionária, entretanto quando mergulhamos na sua narrativa, vemos como a empresária está infeliz.

Envolta em um relacionamento que está ruindo aos poucos, ela só quer paz para poder ficar com sua filha, porém tudo em volta dela parece que vai sufocá-la. Seu marido por mais que se importe, não a conhece de verdade, é deprimente a forma que os sentimentos dela são sempre colocados em segundo plano.

Em uma cena no primeiro episódio que Amy volta do incidente no trânsito, e narra o ocorrido ao seu marido, porém depois de duas frases, George a interrompe e sugere que ela seja mais positiva, quando tudo que ela queria era ser ouvida e descarregar a raiva que sentia.

Por diversas vezes os sentimentos de Amy são silenciados e essas ações contínuas, fazem com que ela crie uma persona mais positiva e controlada do que de fato é, pois a personagem tem medo de que suas falhas a impeçam de ser amada e aceita.

No caso dos dois não tem uma solução, as narrativas vão caminhando até se encontrarem em um ponto que Amy e Danny se reconhecem um no outro, com vidas muito semelhantes e distintas ao mesmo tempo.

Em relação a série toda uma reflexão pessoal que tive, foi de confrontar de cabeça os sentimentos que vemos como “negativos”, é importante lidar com a raiva e todas as novas frustrações. Não podemos esperar que um dia alguém fure nossa bolha e exploda todos esses sentimentos, gerando uma onda de caos, precisamos ser responsáveis com todo nosso sentir.

Os 10 episódios da série foram muito bons de assistir e estou ansiosa para as próximas temporadas, caso seja, renovada. Pois sinto que Danny e Amy ainda têm muito mais para nos mostrar pela frente.

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